Com linhas de atuação no ensino, na pesquisa e na assistência, o Serviço de Dermatologia Ocupacional do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da ENSP vem se destacando como mais um serviço de excelência da Fundação Oswaldo Cruz em prol da saúde do trabalhador. Coordenado pela dermatologista Maria das Graças Mota Melo, o serviço recebe cerca de 12 novos casos de dermatose ocupacional por mês, e, recentemente, sua coordenadora, em parceria com a dermatologista Fernanda Torres, do Departamento de Dermatologia da UFRJ, publicaram artigo na revista internacional 'Clinical, Cosmetic and Investigational Dermatology' sobre dermatite de contato pelo níquel, no qual fazem uma revisão sobre todos os aspectos relacionados à alergia ao níquel.
Segundo o Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, da Secretaria de Atenção à Saúde do MS, as dermatoses ocupacionais são todas as alterações das mucosas, pele e seus anexos que sejam direta ou indiretamente causadas, condicionadas, mantidas ou agravadas por agentes presentes na atividade ocupacional ou no ambiente de trabalho. Por conta disso, representam parcela ponderável das doenças profissionais, e sua prevalência é de avaliação difícil e complexa.
'Um trabalho de detetive'
Desse modo, o trabalho realizado pelas dermatologistas da ENSP consiste justamente em investigar e esclarecer os casos suspeitos da dermatose adquirida no trabalho. O serviço recebe trabalhadores encaminhados pela Rede do Sistema Único de Saúde, por Sindicatos ou INSS, e inicia o processo de investigação na maior parte das vezes por meio do teste de contato, que detecta a causa da alergia. O produto emitido pelo serviço é um laudo técnico que informa se o trabalhador possui dermatose ocupacional, se tem condições de continuar no trabalho, quais as medidas de proteção e prevenção que devem ser adotadas, ou até mesmo a sugestão de mudança de atividade.
As dermatoses ocupacionais são consideradas acidentes de trabalho pela legislação. De acordo com a coordenadora do Serviço de Dermatologia, é importante que o trabalhador tenha uma legislação voltada para esse tipo de acidente de trabalho, mas o percurso até o reconhecimento da doença é longo, e poucos são contemplados. "Existe uma dissociação entre a legislação e o esclarecimento para os próprios profissionais do serviço de saúde sobre as dermatoses ocupacionais. Para começar, não existe serviço especializado em dermatose ocupacional fora da Fiocruz no Rio de Janeiro, os médicos não são preparados, e os trabalhadores não têm ideia de que se trata de uma doença acometida pelo trabalho. Dessa forma, há uma subnotificação dos casos. Não há um trabalho em conjunto que permita que o trabalhador chegue ao INSS com todas as informações para o uso de um direito que é seu".
Pedreiros possuem os casos mais graves
Fernanda Torres ratifica as palavras de Graça e dá ênfase ao trabalho de detetive realizado pelas pesquisadoras. "É uma área difícil de pesquisa e atuação. É complicado evidenciar e comprovar que a pessoa adquire a doença no trabalho. Às vezes, um trabalhador chega aqui dizendo que é alérgico à tinta e que desenvolveu a alergia após usá-la no trabalho. Daí, fazemos uma bateria de exames e comprovamos que ele é alérgico mesmo. Mas isso é um trabalho de detetive. A gente pede para ele trazer os rótulos das tintas que usou e fotografar aspectos do trabalho, pois não basta descobrir que a pessoa é alérgica. O trabalho consiste em desvendar se essa alergia foi desenvolvida no processo de trabalho. Temos que fazer o nexo causal entre a doença e sua obtenção no trabalho. Aí sim o dermatologista consegue estabelecer que ele possui uma dermatose ocupacional. Só que nem sempre as pessoas conseguem trazer os rótulos das tintas, fazer as fotos, sendo que, para nós, é necessário verificar a composição da substância pela qual ele é alérgico".
De acordo com as dermatologistas, os casos mais graves são os dos pedreiros. Como há demora em estabelecer o diagnóstico, e eles não usam proteção quando lidam com o cimento, já chegam ao Serviço de Dermatologia em estado grave. Entretanto, também há muitos casos de dermatose nos pintores, pessoas da limpeza, manicures. De acordo com Maria das Graças, é importante detectar o mais cedo possível que a doença tem relação com a atividade exercida. Se tiver, a primeira medida é afastar o trabalhador do contato com o produto. Se isso acontece, 25% dos pacientes ficam curados e 50% evoluem com algumas recaídas. "Normalmente, os outros 25% não são curados de maneira alguma".
A pesquisadora tem ministrado aulas nos cursos de saúde do trabalhador da ENSP, de toxicologia, de direito e saúde, além de um curso sobre a dermatologia ocupacional na UERJ. Com Fernanda Torres e Antonella Tosti, do Departamento de Dermatologia da Universidade de Bolonha, ajudou a compor o artigo sobre dermatite de contato pelo níquel, publicado na revista internacional 'Clinical, Cosmetic and Investigational Dermatology'. Trata-se de um artigo de revisão sobre todos os aspectos relacionados à alergia ao níquel. "Analisamos aonde ele se encontra, os tipos de alergia, como se faz o diagnóstico, o tipo de tratamento em relação aos profissionais que trabalham com a substância, ou seja, a gente contemplou tudo o que há em torno desse tipo de alergia", revelou Fernanda.
O níquel, de acordo com as pesquisadoras, está presente em todos os lugares. É um metal sobre o qual somos expostos desde criança, quando se coloca um brinco no bebê, um óculos nas crianças. Ele está no crachá, na caneta; enfim, estamos em contato com o níquel desde o momento em que acordamos", disse Graça. As alterações mais comuns são a pele avermelhada, com descamação e coceira. No Serviço de Dermatologia da ENSP, é realizado um teste prático para verificar se algum objeto está liberando níquel. "Ele funciona para identificar e provar se o produto está liberando ou não a substância. Quanto maior for a liberação, maior a intensidade da coloração rosa. O lugar mais comum de alergia é a orelha, por causa do brinco; a barriga, por conta do botão da calça; e o punho, por causa do relógio", completou. No caso do trabalhador, o eczema nas mãos é a principal causa de incapacidade para o trabalho.
fonte: ENSP, publicada em 03/07/2009
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