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Este blog está direcionado a informação sobre problemas ambientais e de saúde. Recebo muitos posts pedindo ajuda mas infelizmente não é possíve realizar "consultas virtuais". Mandem suas dúvidas mas não me peçam orientação de tratamento. Tentarei ajudar até o limite da ética. Obrigada

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A simplicidade da vida

Fico emocionada ao ouvir relatos de vida de pesoas simples, que sabem tirar da vida o que ela tem de melhor. Enquanto muitas pessoas estão preocupadas em  "TER", valorizando as conquistas materiais, algumas poucas nos ensinam que os maiores prazeres estão nas coisas simples, como diz o ditado: " os melhores prefumes estão nos menores frascos".
Este assunto serve para refletirmos sobre o nosso envelhecimento, quando o nosso corpo trará limitações às nossas conquistas. E também, porque valorizar somente o que é NOVO. A estética está criando uma cultura do "por fora bela viola, por dentro pão bolorento". Devemos cuidar do nosso corpo porque ele é a nossa ferramenta mais importante para as nossas conquistas, porém não podemos deixar de valorizar as próprias conquistas, inclusive aquelas ruguinhas conquistadas com a experiência.




A idade não é um pretexto para que se fique velho. (G. Slattery)

O texto abaixo foi escrito por um geriatra e é lindíssimo, e representa bem o que estou dizendo acima:


     Era para ser uma conversa semelhante às anteriores, curta e superficial, visando apenas tomar ciência dos últimos acontecimentos e planejar algum evento futuro.
     Algo, porém, inexplicavelmente, fez com que o assunto se encaminhasse para as suas prioridades atuais comparadas às do passado e de como as mudanças de atitude podem ser decisivas nesta busca pela manutenção da autonomia e independência, visando o envelhecimento saudável.
     Foi neste instante que a metamorfose ocorreu. Os olhos ficaram mais brilhante, a voz mais firme e a argumentação mais convincente. Sem pestanejar, aquela delicada senhora, com mais de 80 anos vividos, passou a descrever como os seus pequenos prazeres cotidianos podem, ao fim de um dia, somarem-se em um bom motivo para louvar a sua existência.
     Nada sofisticado nem excepcional. Tudo muito simples, como a vida pode e deve ser vivida, mormente nesta fase de longevidade. O separar dos remédios, enquanto o café escorre do coador concorrem com a atenção para que o leite não transborde ao ferver. Pequenos desafios, vencidos diariamente ao som do noticiário na rádio, buscando “ter assunto para conversar mais tarde”. Tarefas de limpeza e arrumação de um ambiente prático demoram pouco, principalmente quando feitas com organização e objetividade: “guardo apenas aquilo que tenho certeza que vou usar depois”. Meio da manhã, sempre há algo que precisa ser feito fora de casa: uma pequena compra ou o conserto de um sapato ou utensílio da casa, tudo é motivo para uma boa caminhada: “nunca vou pelo caminho mais curto, pois não tenho pressa e sei que é bom andar”.
     Resolveu morar no litoral desde que considerou cumprida a sua missão de cuidar dos pais e auxiliar no zelo dos netos. Sonho antigo de quem gosta de locais onde a vida transcorre com mais facilidade e boa convivência.
     Os filhos, inicialmente temerosos, foram se convencendo de que uma boa rede de amizades pode dar mais apoio do que a presença eventual dos parentes. Visita-os semanalmente, avisando com antecedência quais são os seus planos de permanência, itinerários e destinos.
     Há muito decidiu comer em locais que servem “por peso”. Mesmo sendo uma exímia cozinheira, fez esta opção por razões bem justificadas: “lá encontro maior variedade de alimentos, o que me permite escolher o que mais me apetece dentre as coisa que fui orientada a comer”.
     Além disso, exercita a necessidade de escolher qual o restaurante, qual a composição do prato, qual o suco que melhor acompanha, pois “ninguém melhor que eu para saber qual o meu gosto, em cada dia”.
     Após o almoço, outra caminhada pelo calçadão. Senta-se nos bancos e contempla o mar, “como se o estivesse vendo pela primeira vez”. Com freqüência, alguém conhecido se detém para uma conversa agradável, uma novidade ou apenas um cumprimento afetuoso. Preserva os amigos como seu patrimônio pessoal.
     Faz o possível para não ter compromissos desnecessários: hora de ligar para um filho ou de tomar banho, por exemplo. “Ligo quando tenho saudades e sei que eles podem me atender com calma. Tomo banho quantas vezes sentir vontade, a qualquer hora do dia”. Com isto, liberta-se, pelo menos em parte, da ditadura do relógio.
     Foi uma longa e agradável conversa. Saí com a deliciosa sensação de que o avançar da idade permite, a quem assim o desejar, obter prazeres onde antes só se reconheciam os deveres.

Autor: 
Wilson Jacob Filho  
Publicado no Jornal Folha de São Paulo em 28/01/2010.


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