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sábado, 20 de outubro de 2012

Criança que ronca


Você certamente já ouviu a expressão " dorme como um bebê " ou " tem um sono de criança ". Quando ouvimos essas frases, vem à nossa mente um sono tranqüilo e reparador. Naturalmente, você não imagina uma criança roncando, babando ou sem posição confortável para dormir. Pois é, a sabedoria popular já diz que o sono infantil tem algo de errado se é agitado ou ruidoso. A criança que tem essa característica de sono, na maioria das vezes apresenta aumento da adenóide, um tipo de amígdala localizada atrás do nariz, vulgarmente chamada de "carne esponjosa". 

A adenóide, bem como as amígdalas e várias pequenas glandulas presentes no trajeto entre o nariz e a boca, fazem parte de um sistema de reconhecimento e defesa de nosso organismo. A função da adenóide e das amígdalas, é registrar os possíveis agentes agressores ao organismo que estão no ar, para formar sua defesa através dos anticorpos. Durante os primeiros anos de vida, a adenóide é normalmente grande porque a criança está aprendendo a se relacionar com o mundo exterior, captando, registrando e arquivando conhecimentos sob a forma de anticorpos. Essa atividade da adenóide é fundamental, mas, muitas vezes acaba por trazer complicações porque seu tamanho atinge níveis que se tornam prejudiciais ao bom desenvolvimento da criança. 


Quando cresce muito, a adenóide pode inclusive, impedir totalmente a passagem de ar pelo nariz, o que ocorre principalmente à noite, porque o palato (céu da boca) cai sobre ela quando a criança se deita. O sono então torna-se agitado. Sem respirar, a criança abre a boca, ronca, procura uma posição em que respire melhor, acorda com freqüência e muitas vezes só consegue dormir quase que sentada. O resultado imediato de toda essa dificuldade, é aquela criança que pela manhã parece um urso em hibernação e voce não consegue acordar. 


Quando o quadro é dramático, os pais logo procuram o médico na procura de ajuda, mas os casos não tão evidentes são arrastados durante anos, podendo ter conseqüências desastrosas. 


Para entender o que pode acontecer, devemos lembrar que a função do nariz não é a de simplesmente respirar, senão a respiração pela boca seria suficiente. Faça então um teste: inspire profundamente pelo nariz e sinta como é agradável a sensação de encher o pulmão "inteirinho". Agora, tente o mesmo pela boca. Não conseguiu, não é? Então você percebeu que a respiração nasal é importante para a sensação de satisfação respiratória. Isso porque o nariz possui uma função de filtro, aquecendo, umedecendo, retirando os agressores do ar que você manda para o pulmão. Há ainda um reflexo desencadeado pela respiração nasal, que determina a expansão de toda a caixa toráxica, para permitir o preenchimento completo do pulmão pelo ar. Quando você respira pela boca, o ar vai para o pulmão sem tratamento, podendo gerar infecções pulmonares ou crises de bronquite e também não consegue ocupar completamente todo o espaço disponível. 


Uma vez que a plena respiração só é conseguida pelo nariz, como você mesmo observou, a respiração bucal não é suficiente para uma boa oxigenação do organismo. De fato, as crianças respiradoras bucais tendem a ser menores e estudos científicos demonstram que possuem rendimento escolar mais baixo que as respiradoras nasais. Tal fato é atribuído à falta de oxigenação cerebral, que retira da criança parte de sua possibilidade intelectual. 


Existe ainda o fato de que o sabor dos alimentos está diretamente ligado ao seu odor. Quem não percebe a boca salivar na hora do almoço, quando sente um aroma gostoso de comida? Por não ter essa percepção, a criança respiradora bucal não tem bom apetite e seu desenvolvimento é comprometido. 


Um segundo aspecto a ser discutido é o acúmulo de secreções nas fossas nasais. Normalmente essas secreções são engolidas inconscientemente, mas a criança que tem uma "rolha" atrás do nariz, não consegue. As secreções ficam paradas, servindo como meio de cultura para germes que podem agredir tanto o ouvido, levando às otites, como os seios paranasais, gerando as sinusites. As infecções tendem a se repetir, sendo esse mais um fator que compromete o bom desenvolvimento da criança. 


Um último problema a ser lembrado são as malformações faciais e de tórax a longo prazo. A passagem de ar pelo nariz é importante para a aeração dos seios paranasais, que vão formar os malares (bochechas). A tração dos músculos sobre a mandíbula, é também importante para o seu desenvolvimento adequado. A respiração bucal, além não gerar o estímulo que é preciso para o desenvolvimento dos ossos malares, impede que a criança mantenha a boca fechada, e portanto a musculatura não faz as pressões nescessárias sobre a mandíbula, que se torna hipodesenvolvida. A composição entre os dois problemas descritos, tem como resultado um rosto que se torna comprido e com a mandíbula curta. Em conseqüência ao mau posicionamento da língua durante o ato de engolir, o céu da boca torna-se alto e há desvio anterior da arcada dentária. Com o tempo, o tórax acaba se deformando pelo esforço contínuo em "buscar"o ar. 


Todas essas alterações podem ser prevenidas se tratadas adequadamente. Seu médico otorrinolaringologista tem meios de diagnosticar e tratar os problemas que levam à respiração bucal. Se o diagnóstico for aumento de adenóide, tranqüilize-se: o tratamento é simples e gratificante. Muitas vezes está indicada a retirada cirúrgica, com resultados que parecem milagrosos e são percebidos no mesmo dia da cirurgia. Portanto, se seu filho for uma dessas crianças, procure orientação especializada e veja como é fácil ver seu filho dormir como um bebê.



fonte: fundação otorrinolaringologia

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