Queridos visitantes,
Este blog está direcionado a informação sobre problemas ambientais e de saúde. Recebo muitos posts pedindo ajuda mas infelizmente não é possíve realizar "consultas virtuais". Mandem suas dúvidas mas não me peçam orientação de tratamento. Tentarei ajudar até o limite da ética. Obrigada

sábado, 14 de agosto de 2010

Dermatoses Ocupacionais

Doença Ocupacional é qualquer alteração da pele, mucosa e anexos, direta ou indiretamente causada, condicionada, mantida ou agravada por agentes presentes na atividade ocupacional ou no ambiente de trabalho.As causas das doenças ocupácionais podem ser diretas ou indiretas.
As causas diretas podem ser inúmeros agentes durante o trabalho, que podem ser químicos, físicos ou biológicos. Os mais comuns são: químicos – metais, ácidos e álcalis, hidrocarbonetos aromáticos, óleos lubrificantes e de corte, arsênico; físicos12 – radiações, traumas, vibração, pressão, calor, frio; biológicos – vírus, bactérias, fungos, parasitas, plantas, animais.No câncer cutâneo, pode haver dificuldade no estabelecimento do nexo ocupacional. Os principais agentes carcinogênicos ocupacionais são: físicos – radiações ionizantes e não ionizantes (RX, raios ultravioletas e infravermelhos) e traumas; químicos – arsênico inorgânico (pesticidas e contaminação ambiental), hidrocarbonetos aromáticos, nitrosaminas (fluidos de corte); biológicos – vírus HPV.
As causas indiretas são a inexperiência no trabalho, falta de capacitação para o mesmo, além de alergias a alguns materiais, como a borracha,usados nos EPI´s.



Classificação Clínica:

1. Dermatites de contato
As dermatites de contato (DCs) classificam-se em dermatite de contato irritativa (DCI) e dermatite de contato alérgica (DCA). As DCIs são as mais importantes nas DOs, pela frequência com que ocorrem (80% das DCs) . As lesões surgem após exposições à substância irritante, sucessivas ou não, restritas às áreas de contato. As lesões ocorrem de acordo com a frequência e a duração da exposição.

2. Acnes: elaioconiose – acomete áreas expostas ou cobertas por vestimentas sujas, frequente em metalúrgicos (óleos de corte) e mecânicos (graxas); cloracne – forma grave de acne ocupacional, causada por contaminação ambiental ou uso industrial de hidrocarbonetos clorados, presentes nos defensivos agrícolas. Ocorre por obstrução dos folículos pilosos, com irritação e infecção secundária.

3.Ceratoses: traumáticas e pré-cancerosas (solar, arsenical e por óleos de corte).

4.Cânceres: estão relacionados a agentes físicos, virais e químicos. Os carcinomas basocelular e espinocelular são os mais comuns e, em geral, manifestam- se como lesões papulosas, nódulo-tumorais e/ou ulceradas em áreas expostas. Mais raramente, ocorrem melanomas. É controverso se linfomas (em < especial, de células T) podem estar relacionados à dermatite crônica actínica. 5.Granuloma de corpo estranho: plantas, limalha de metais e pêlos de humanos ou animais – "fístula pilosa" 6.Infecções: em geral, é difícil estabelecer a relação ocupacional (riscos fora da ocupação). Doenças como erisipeloide (açougueiro), carbúnculo ou antrax e nódulo dos ordenhadores (pecuaristas) e esporotricose (floristas) são eminentemente profissionais. 7.Oníquias: infecciosas, traumáticas e discrômicas (melanoníquias e leuconíquias). 8.Ulcerações: inespecíficas (acidentes de trabalho) e específicas (infecciosas). DOs nos profissionais da construção civil: A construção civil tem mais de duzentas ocupações. Em geral, os pedreiros apresentam DCIs e 50% deles apresentam DCAs, principalmente, pelas condições de trabalho e pela falta de equipamentos de proteção individual (EPI). Os riscos são: metais contaminantes do cimento (cromo hexavalente e cobalto), vulcanizadores da borracha das luvas (tiurans, carbamatos, mercaptobenzotiazóis, parafenilenodiamina e hidroquinona) e madeiras. A pele ressecada e a presença de DCIs facilitam a sensibilização. Os EPIs de borracha podem desencadear DCIs (suor, pH das luvas, irritantes do produto), DCAs (vulcanizadores de borracha) e urticária de contato (mediada por IgE, pelo látex). O pó de cimento é muito irritante (alcalino, higroscópico e abrasivo) e, quando molhado (pH > 12), torna-se mais irritante, podendo acarretar desde DCI relativa até absoluta (quando permanece, por muito tempo, sob pressão, atrito e oclusão), levando à formação de "queimaduras", com bolhas, necrose e "ulcerações do cimento". A composição básica do cimento (silicatos e aluminatos de cálcio, óxidos de ferro e magnésio, álcalis e sulfatos) não é sensibilizante, mas, como o produto é contaminado por metais muito alergizantes, provenientes de seu preparo, desencadeia DCA.

DOs nos profissionais da saúde:

Na área da saúde, a DO é muito comum, mais comumente localizada nas mãos. É possível ocorrerem dermatoses de origem química, infecciosa e física. O trabalho úmido predispõe a DOs nesses trabalhadores. A DCA é causada por materiais de trabalho (luvas, metais, resinas epóxi e acrílicas) e outros químicos, por exemplo, agentes de desinfecção para higiene, como glutaraldeído e medicamentos, que também podem ser irritantes. A urticária pelo látex das luvas não é rara e os aditivos da vulcanização da borracha das luvas (dialquil tioureias) têm sido considerados como os sensibilizantes mais comuns nos profissionais da saúde. Os medicamentos deixaram de ser os principais sensibilizantes.

Em alguns países, os profissionais da saúde representam os maiores grupos ocupacionais e as DOs mais estudadas neles são as relacionadas à Medicina e à Odontologia. Os tipos de dermatoses e sua incidência variam muito conforme a categoria profissional e, mesmo nas diferentes especialidades médico-odontológicas, variam de acordo com os diferentes tipos de exposições dos radiologistas, clínicos, cirurgiões ou laboratoristas. Os profissionais mais susceptíveis são enfermeiros e membros de equipes de centro cirúrgico, pelo uso de muitas substâncias irritantes (antissépticos), seguidos pelos dentistas. Estima-se que 5% a 10% desses profissionais sejam alérgicos ao látex.

DOs nos profissionais da estética:

Na área estética, as atividades profissionais são inúmeras e, no Brasil, representam o segundo setor empresarial em número de trabalhadores. Nos cabeleireiros profissionais, a DCA chega a quase 50%; nos ajudantes e aprendizes, por terem como função principal o trabalho úmido, a DCI é mais frequente. Como os cabeleireiros executam várias funções, são numerosos os produtos com que entram em contato e os maiores riscos são os agentes irritantes: xampus, água oxigenada, persulfato de amônia, materiais úmidos, ar quente e luvas. As substâncias mais sensibilizantes são: metais (Ni e Co); p-fenilenodiamina das tinturas de cabelos e tatuagens de henna; tioglicolato de sódio de produtos envolvidos no processo de ondulação e alisamento de cabelos; látex e vulcanizadores de borracha das luvas; persulfato de amônia, que acelera a descoloração dos cabelos; fragrâncias; cremes com preservativos (formaldeído); esmaltes de unhas; próteses e colas acrílicas para unhas; cosméticos (metildibromoglutaronitrila).


DOs nos profissionais da metalurgia:

Na indústria metalúrgica, as DOs mais comuns são as DCIs por fluidos de corte e, menos frequentemente, DCAs por metais da galvanização e pelos fluidos de corte, podendo ocorrer mais raramente a acne ocupacional – elaioconiose pelos óleos e cloracne pelos hidrocarbonetos clorados.

DOs nos profissionais da alimentacão:

No setor de alimentação, os trabalhadores que manipulam alimentos podem desenvolver DOs por manterem contato com agentes irritantes e sensibilizantes e por trabalharem com materiais úmidos. Em padarias ou doçarias, o contato sensibilizante pode ser com: farinha, adoçantes, emulsificantes, espumantes, branqueadores, fermento, corantes e aromatizantes; na cozinha: trabalho com materiais úmidos e alimentos irritantes (frutas, temperos); sensibilizantes (alho, cebola) e fotossensibilizantes (cascas de laranja e limão, aipo).

DOs nos profissionais da limpeza

No setor de limpeza, a DCI é comum por causa do contato com umidade, sabões e detergentes que contêm ácidos graxos e álcalis. Os agentes sensibilizantes são os produtos de limpeza e a borracha das luvas. Os detergentes enzimáticos raramente causam dermatite de contato.

PREVENÇÃO

As medidas de prevenção nas DOs são extremamente importantes. As empresas devem adotar medidas coletivas para proteção, como exames médicos periódicos e orientações ao trabalhador, para evitar recidivas e o aparecimento de novos casos de DOs, pois estas geram desconforto para o trabalhador, incapacidade para a profissão, mudança de função, diminuição da produção e, consequentemente, dos rendimentos do trabalhador e da empresa, e aumento dos custos médicos e previdenciários.

A higiene pessoal deve ser cuidadosa e é indicado o uso de emolientes. As vestimentas devem ser mantidas limpas. As áreas do corpo contaminadas com agentes nocivos devem ser lavadas imediatamente e hidratadas com cremes sem fragrância. A orientação mais importante na prevenção das DCs é o afastamento do fator irritante ou alergênico. No que diz respeito à DO, pode-se enfatizar como cuidados pessoais o uso de EPIs adequados (botas, gorro, máscara, avental e luvas), roupas especiais e conscientização da higiene pessoal. Os cremes de barreira são comumente utilizados, embora sua eficácia seja questionada. Devem ser usados antes de a dermatite se desenvolver, uma vez que seus componentes podem causar dermatite de contato irritativa e alérgica, especialmente, se usados na pele lesada. A fotoproteção por roupas e tópicos fotoprotetores é fundamental nos que se expõem a raios ultravioleta.

O uso de luvas adequadas é necessário na prevenção de DOs (exceto nos trabalhos em que a destreza manual é necessária e quando a utilização de luvas implica riscos de acidente de trabalho). Os alérgicos à borracha devem utilizar luvas de vinil ou poliuretano. Os alérgicos ao látex das luvas também podem utilizar a borracha sem látex. Os alérgicos a acrilatos devem usar luvas de nitrila.

Apesar dos efeitos benéficos de medidas protetoras individuais aliadas à educação, na prevenção de DCAs ao cromo nos trabalhadores da construção civil, é necessário adicionar sulfato ferroso ao cimento, o qual reduz o cromo hexavalente a cromo trivalente, menos sensibilizante.

A melhora no conhecimento da epidemiologia das DOs pode levar a estratégias preventivas que reduzam a incidência desse frequente problema de saúde.

fonte:Dermatoses Ocupacionais - Anais Brasileiros de Dermatologia; [online]. 2010, vol.85, n.2, pp. 137-147

2 comentários:

  1. Veja também " Dermatoses relacionadas ao trabalho" neste blog

    ResponderExcluir
  2. dra.cyntia que exame deve ser feito para saber se a acne é ocupacional,ja que tive que ser afastado do local de trabalho devido inflação do dois pulmão por causa do oleo de corte...

    ResponderExcluir